Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) sinalizou em ata, divulgada nesta terça (26), que irá diminuir ainda mais o seu ritmo de corte na taxa básica de juros da economia (Selic), a partir de junho.

Na última semana, os diretores do BC, por unanimidade, votaram por reduzir, mais uma vez  a Selic a conta-gotas, em apenas 0,50 ponto porcentual, que saiu dos 11,25% para 10,75% ao ano – mantendo, assim, os juros reais (descontada a inflação) entre os maiores do mundo e chocando-se com a maioria da sociedade brasileira, que anseia pela retomada do crescimento econômico.

Em agosto do ano passado, após a Selic ter ficado por 12 meses em 13,75%, o BC iniciou o ciclo de redução da taxa, que somam, até agora, seis cortes de 0,50 ponto percentual, em cada reunião realizada. Esse ritmo de redução da taxa base vem sendo fortemente criticado por amplos setores da sociedade, particularmente pelo empresariado brasileiro, que afirma que os juros elevados inibem os investimentos, o consumo e a geração de emprego.

Para a Confederação Nacional da Indústria (CNI), o Copom deveria acelerar a queda dos juros, com um corte de no mínimo 0,75 ponto percentual.

“A CNI entende que, mantido o cenário de inflação sob controle, é imprescindível uma aceleração no ritmo de redução da taxa Selic já na próxima reunião do Copom”, cobrou o presidente da CNI, Ricardo Alban, na última quarta-feira (20).

De acordo com a CNI, mesmo após as cinco reduções na taxa, realizadas desde agosto do ano passado – quando a Selic estava em 13,75% -, a taxa de juro real permaneceu em 7,5% ao ano.

Nesta terça-feira, o IBGE divulgou que a inflação – medida pelo IPCA-15 – desacelerou na passagem de fevereiro para março, saiu de uma alta de 0,78% para a alta de 0,36%, uma queda de 0,42 ponto percentual (p.p.) de um mês para o outro.

O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15) é considerado como uma prévia para inflação oficial, que também é calculada e divulgada pelo IBGE.  Em 12 meses, o IPCA-15 acumula uma alta de 4,14%.

Com o BC mantendo a taxa de juros nominal elevada neste quadro atual de inflação baixa, o juro real, já ao nível proibitivo, segue aumentando e elevando os custos das dívidas das empresas e restringindo o consumo e os investimentos no país.

Por outra via, o BC, por meio da alta Selic, também segue alavancando a transferência de recursos públicos (União, Estado/municípios e estatais) para o pagamento de juros da dívida pública, engordando ainda mais o bolso do banqueiro.

Sem qualquer restrição imposta pelo arcabouço fiscal em vigor, em 2023, o gasto do setor público com os juros ultrapassou os R$ 700 bilhões, o que consequentemente elevou a dívida pública. Enquanto isso, no ano passado, os investimentos no país em máquinas, equipamentos e material de construção recuaram 3% em relação a 2022, um fato que levou  à queda de -1,3% do PIB da indústria de transformação.

O BC justifica a manutenção do arrocho monetário/econômico frente a algumas melhorias verificadas no ano passado no mercado de trabalho, na renda e no consumo das famílias – que foram financiadas por ações e programas do governo, principalmente os de distribuição de renda – e no mercado de crédito (devido à redução da Selic).

Segundo o Copom, o “esmorecimento no esforço de reformas estruturais e disciplina fiscal, o aumento de crédito direcionado e as incertezas sobre a estabilização da dívida pública têm o potencial de elevar a taxa de juros neutra da economia, com impactos deletérios sobre a potência da política monetária”.

Ou seja, o BC “independente” repercute o desconforto do mercado financeiro com os esforços do governo Lula de ampliar os investimentos públicos e privados no país, e, contra isso, está usando novamente a taxa Selic como instrumento de chantagem.

Fonte: Página 8